terça-feira, dezembro 14, 2004

..."mas há alturas em que a dor é agonia"...

Cortaram-me os braços,
continuei a pensar,
a desenhar outros traços
que não podendo soletrar
imaginei e conspirei
ao ver-te passar.

Arrancaram-me os olhos,
não deixei de te ouvir.

Dancei ao ritmo de pulsações,
do bater de dois corações
que não se conseguem distinguir.

Escreveram-me no fado
(com as forças que não tinha)
um manual de sobrevivência.

E deixaram-me à tua experiência.
Enjaulada no dom que sou…

Fechada neste laboratório
num estado transitório
do corpo que me manipulou.

Sugam-me os sentidos…
os dedos, um por um…
e faço-os renascer
feridos.

Violam-me a pele escamada
e recubro-me,desenhada.

Levem, levem-me tudo!

Mas não me matem aos pedaços!
Posso reconstituir os meus braços
ou os olhares de veludo,
mas há alturas em que a dor
é agonia…

e as Salamandras também morrem, meu amor…
as Salamandras também morrem um dia.

12.07.04
*Mó

1 comentário:

Patrícia Mota disse...

Morrem sim... Todos morremos...
Mas há coisas que são eternas e que nos imortalizam...