terça-feira, maio 31, 2005

Risca na parte de trás do bilhete de cinema as directrizes para os teus sonhos.
Desenha em cima do talão dos carrinhos de choque as coisas que dizes que me fazem rir.

Escreve no ticket do combóio o caminho da tua porta.

Inventa no meu relógio os ponteiros das tuas horas e tira-lhe a bateria.



Prometo que faço um filme do teu sono.
Uma viagem nos teus lábios.

Prometo que não me perco.

E que não me atraso.



*Mó

sexta-feira, maio 27, 2005

Está cinzenta a sombra do sol.
Está quente o cheiro do ar.
Está quieto, lá em baixo, o rio de prata, sujo de ouro.

Está doente a ponte.
Estou descalça. Sem mangas nos braços. Sem o cabelo amarrado.

Sem fome. Com sono. Sem tempo para saber se estou sem corpo.
Sem lágrimas. Sem dramas.

Cem lutas depois e eu com todos os suspiros do mundo.

Contigo.
Comigo...
Comigo...


Mó*

terça-feira, maio 24, 2005

"maybe...U're gonna be the one"

Today was gonna be the day
But they'll never throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you're not to do
I don't believe that anybody
Feels the way I do
About you now

But all the roads that lead you there were winding
And all the lights that light the way are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how
I don't know how

I said maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall

I said maybe (I said maybe)
You're gonna be the one that saves me


a k7 já empanca no rádio...mas as palavras saem direitinhas..."SAID MAYBEEEEE"
*Mó

sábado, maio 21, 2005

E porque não?
Engasgas-te e não deixas de beber.

Não deixas...
se deixas...voltas.

Não?

Porquê?

Porque não.


Steve Bingham . "altered decisions"

sábado, maio 14, 2005

Eu fico à baliza...

-Acorda! O teu pai foi buscar o almoço e volta já, veste-te e vai ajudar a tua irmã a por a mesa.
-Oh mãe...mas ainda é tão cedo!

(...)

Sempre que tenho de acordar peço que me acordem. Quando não quero pensar em mim num espectro de invulnerabilidade, deixo-me adormecer com os sons todos do rádio.

Não desperto. Não tenho vontade de o fazer.

A gravata já sabe fazer o nó na camisa e as casa dos botões já me endireitam os punhos antes de vestir o casaco.
O carro já sabe o caminho de volta.
Só o de volta, porque sabe sempre que não quero nunca voltar.

(...)
-Vá lá, deixa-te de coisas. Estamos lá em baixo à tua espera.
-'Tá bem, já vou...

(...)

Decidi que ia deixar tudo correr como quisesse. Decidi que não ia decidir mais nada.
Mas olhei nos olhos da tua mãe.
E ouvi a tua irmã a descer as escadas a correr, a espreitar atrás da cortina enquanto eu passava o portão de casa, ao fim da tarde de hoje.
Vi que a relva do jardim estava pantanosa e que a roseira tinha desmaiado.

(...)
-Mamã, vamos hoje a casa da avó?
-Não filho, a avó foi almoçar com a tia Luísa.
-E o papá, vai demorar?
-Não, ele vem já.

(...)

A tua janela fica mesmo por cima da porta. Escolhi esse quarto para ti porque sabia que gostavas de ver os carros a passar, não é? E, um dia, quando crescesses, era pela janela que ias espreitar a vizinha da frente, como eu as vezes fazia quando te ia deitar.
Entrei e a porta fechou-se atrás de mim. Porque eu não a fecho mais desde que decidi que não ia decidir voltar.

(...)

-Papá!Chegaste!
-Tem calma, filho, o teu pai não foje!

-Que tens nessa saca?Uma bola!
-Mas primeiro vamos almoçar, seu tolinho...

(...)

A tua janela está fechada.
Nem eu nem a tua mãe conseguimos arrumar os cromos que deixaste pelo chão do quarto.
A tua irmã diz que agora já sabe acordar sozinha, mas ainda só adormece quando eu a deito.
Agora já não espreito a vizinha da frente, filho. E tenho o carro parado à porta, mas não te vejo à espreita, por cima da porta.
Decidi que não ia mais voltar.
Desde que não te tenho a correr atrás da bola, depois do almoço, enquanto a tua mãe faz tranças à tua irmã.


(...)

-Ficas à baliza?
-Fico, mas não chutes com força!

(...)

Não volto mais. Fico à espera que voltes tu. Ou que me venhas buscar.

A tua mãe tem os cabelos da tua irmã para fazer tranças.
E eu tenho a tua bola nas mãos.

Eu fico à baliza.


13.05.05
*Mó

sexta-feira, maio 06, 2005




Podia dizer tanta coisa.
Que saí de casa a correr, que perdi o autocarro e fui a pé, que esperei à porta até poder entrar.
Que fiz uma ferida no pé de andar tanto, que me esqueci da ferida assim que entrei.

Que vi o concerto todo pelo caminho, ou por outra, que ouvi o concerto, não cheguei a ver.
Que não sabia que ia estar tanto vento.
Que recebi troco a mais, que me enganei e entornei vodka nas calças...que tive frio a noite toda.
A pele de galinha a noite toda...

Que me roubaram um beijo, que me pediram outro, que me levaram as cavalitas e não me deixaram cair.
Que não ouvi o telefone tocar.
Não ouvi nada. E podia dizer tanta coisa que me disseram, se eu tivesse ouvido.

Mas passei a porta com o pé ferido.
E mesmo com o pé ferido, entrei.

Não vi o concerto, entornei vodka nas calças e arrepiei-me com o vento.

Vi o dia começar, e sabia que ainda lá estarias quando eu saísse porta fora.
Só para que eu voltasse outra vez.

Até logo, até hoje.
...até sempre...

segunda-feira, maio 02, 2005


apanha o maior dos momentos e faz dele o corpo lapidado que te escorregou entre os dedos.