sexta-feira, julho 29, 2005

Inventei mais uma forma de não reinventar o mundo.
É mais um cantinho...são os meus olhares
...os mesmos, os de sempre, mas estes atrás (ou à frente) duma máquina qualquer.

sexta-feira, julho 22, 2005

Vi-te por lá. Onde os doidos fazem fitas e dizem que são heróis de banda-desenhada.
Rias muito, rias tanto que quando falavas gaguejavas. Na verdade, quando falavas não dizias nada - mas isso também era verdade quando te via por cá, no sítio onde os doidos brincam aos deuses.

Vinhas de braços abertos, peito apertado, e aquele gesto indefinido que agora decifro - fica mas não venhas.
Não me apertaste, não me levaste aos laguinhos e não contaste os nenúfares. Quiseste-me à espera, na margem dum rio de ouro, seco de sal dos choros que não saíram nunca de ti.
E eu fiquei.
Sentei-me agachada, acorrentada ao nevoeiro do brilho que desapareceu de ti. Idolatrei reflexos que não existiam, enfeitei-me sobre a água e esperei. Confessei a quem passava que o meu anjo era o meu amor, e esperei.
Ouvi que os anjos não vêm e não acreditei - disse sempre que era tolice não almejar um par de asas de verniz.
E esperei.
Cheguei a molhar as mãos.
Senti o rio frio, seco, doce. Pensei em correr à foz e ver onde acabava o curso dos sonhos, mas fiquei. Esperei.
Tu aparecias, de quando em vez, atrás do meu espelho - achava-te sempre à frente dos meus olhos. Esperei.

Vi-te por lá. Não sei quando, não sei como, não sei porquê. Era de noite e à noite a água salgada do rio quase doce fica negra. Vi-te por lá, no escuro quase cego dum naufrágio onde eu achei que sabia nadar. Vi-te na proa, com as velas erguidas, como os doidos que são heróis de banda desenhada.

Com os pés cansados, esperei.
Não desceste do pódio dos teus dias que eu um dia pintei com diamantes.
Vi-te alto demais. Fiquei pequena de tanto te pôr lá no alto.

Esperei demais - esperei sem saber quanto.
E tu não ficaste, nunca cá estiveste. Levaste-me solta para depois me atracares os pés molhados à outra margem do teu lugar.

Esperei muito. Vi demasiadas manhãs com demasiadas histórias. Adormeci demasiadas vezes durante os silêncios soturnos de noites vizinhas da tua escuridão.




Mas hoje o céu é turvo e a àgua cálida não turbilha muito. Leio-me entre as gotas de sal queimadas. No meu reflexo vejo a vela erguida da tua sonâmbula visita, e sei que não te vou achar mais à frente dos meus olhos.

As correntes esfarelaram-me os pés mas ainda consigo andar.
Lá, na terra dos doidos, sei que tenho à espera a escada que vai deixar os deuses descerem até mim.
Lá, não volto a rasgar os dias à espera - sonhar com o teu regresso é crucificar a tua partida.
Não espero mais, meu amor.


22.07.05
*Mó

sábado, julho 16, 2005





Tudo tem um segundo em que deixa de ser tudo.
Até sempre, que é tão perto do até nunca mais.




I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's home to me and I walk alone

I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
and I'm the only one and I walk alone

I walk alone
I walk alone


My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line
Of the edge and where I walk alone

Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs
To know I'm still alive and I walk alone

(Green Day - Boulevard of broken dreams)



...e os violinos todos do mundo fecharam as almas de quem os ouviu.
(xiu...não digam mais nada. as melhores músicas acabam assim.)

*Mó

domingo, julho 03, 2005

Não gosto nada de declarar despedidas.
Não me apetece nem um bocadinho dizer que sinto a vossa falta e ainda nem vos vi partir.

Não me apetece ver.

Não tenho vontade nenhuma de fazer com que a vossa ultima recordação minha seja com sal nos olhos.Nao quero sequer pensar que será essa a ultima imagem que gravam de mim por perto.
Não quero prometer que vai ser sempre como se nunca nos tivessemos separado, porque isso significaria que nunca tinhamos estado juntos.

Não quero saber da hora em que partem, prefiro ficar aqui quieta e escrever-vos.
Prefiro dizer-vos agora, que sei que estão quase a ler-me de longe, que é esta a minha forma de gritar que sinto tanto a vossa falta.
Que não consigo inventar as manhãs de chuva sem as vossas birrinhas de quem só sabe o que é acordar com sol...não consigo adivinhar como vão ser as filas de espera sem voces para contar piadas.
Porra, não quero fragilizar-me nas palavras e derreter a força toda que quero deixar de pé, mas...porra, voces fazem-me falta!

Não sei com quem vou chorar este ano novo quando estourar o fogo lá em cima, não sei com quem vou dançar pagode, com quem vou rir nas noites de churrascos e de queima em que voces eram sempre o meu lugar mais encantado.

Não sei mesmo.

Mas sei que vivemos coisas fantásticas, sei que sempre soube que um dia chegava o dia de voces voltarem, sempre soube que não vieram para ficar. E, talvez por isso, reservei os segundos todos para decorar os vossos jeitos, para memorizar ao detalhe as expressões dos vossos olhos quando sorriem.
Decorei os bocadinhos das vossas almas que consegui ler, e tatuei-as na minha.

Assim eu sabia-vos para sempre comigo - se não for em frente aos meus olhos, que seja dentro deles.

Adoro-vos. Sem cliché. Adoro tudo o que aprendi, tudo o que desaprendi para vos ouvir com mais atenção, como se fosse a primeira vez que ouvia o que voces me diziam.
Porque, afinal, não interessam as palavras, mas o sítio onde elas nascem...

Adoro-vos tanto...que chego a achar que sei que da próxima vez, quem volta sou eu - porque chego a achar que o meu lugar é onde vocês estão.

***Mó
3 de Julho .05