sexta-feira, fevereiro 11, 2005

porto de abrigo.


porto de abrigo 

Um dia, saí pela janela do quarto e saltei da varanda para o jardim. Trepei o muro, piquei a mão num arame farpado esquecido e fiquei de pé, a tremer ao portão.
A lua era vaza, "como se fosse desenhada com um aparo", daqueles bem rigorosos e fabulosamente indefinidos. Alguém a riscou lá, imperfeita, "incrível", como tu dizes...

Não tinha cobertores nem pedaços de pele destapados para dar beijos...não tinha estrelas para contar até vinte com os olhos muito fechados e depois brincar às caçadinhas.
Tinha o corpo quieto, a tremer ao portão, com a mão furada no sítio das chagas. E isso é tanto quando, ao fechar os olhos se conta até 10, se tropeça no 11, e ao segundo preciso do 12, quase no 13, alguém nos faz cambalear quando nos toca o pulso.

Ficam para trás os portões e os arames. As marcas são outras, maiores que as da mão furada.

E as estrelas?
Contadas a dobrar não se atrevem a não aparecer.


10.02.05
*Mó

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