domingo, abril 10, 2005

se te amei foi porque te menti.




Se não houvessem motivos para olhar para trás e chorar não saberia o porque de querer olhar pra frente e não ter vontade de repetir tudo.
Continuar a tentar. Sou eu prostrada num lugar onde já não há restos de cinza. Onde tudo que aconteceu antes desta manhã já não tem como continuar a esvoaçar por aí...
Sei a verdade toda sobre tudo o que me interessa acreditar, sei as mentiras todas das falsidades que inventei para que as coisas em que me interessa crer sejam todos os segundos mais reais.
Não há restos de cinza. Só corpos acabados, com significados inventados.

Se te disse algum dia que a minha fraqueza existia nos joelhos, era porque queria que mos tocasses, nunca porque os sentia a desfalecer. Se algum acaso fez com que escorregasse numa piedade qualquer duma verdade que fingi esconder não foi porque não to quisesse contar, mas quis que pensasses que também eu sei como errar. Nunca que achasses que erro sem o saber.
Se nunca te disse que te queria era porque não queria mesmo. Mas se não fiquei calada, era porque queria que me quisesses a querer-te. Queria que fizesses qualquer coisa para eu alienar as palpitações todas, desacerta-las e entrega-las a ti, ter vontade de te mentir e dizer-te que era tua.

Se te rasguei os lábios, se te mordi o cérebro, foi só porque queria ter-te metamorfoseado com uma estaca no coração.

Se te chamei ontem, ou noutro ontem qualquer, não foi para que viesses.
Foi para te dizer que não voltasses, para que não mais soubesse que um dia voltaria a ver-te partir.

Se te amei foi porque te menti.
Se não houvessem motivos para olhar para trás e chorar não saberia o porque de olhar pra frente e não ter vontade de repetir tudo.

Se te amei foi porque te menti, foi porque te amo hoje.


03.04.05
*Mó

1 comentário:

Anónimo disse...

De cada vez que releio, fico sem fala. Hoje tive de ler em voz alta e mandei-lho num mail, dizendo apenas que aquilo era tudo verdade, mas que nunca tinha mentido, embora eu tivesse sido mentira.