É a inocência que trago presa aos braços que me faz calos nas mãos.
É por ela, só por ela que escrevo.
Porque sou uma gaivota. Que foge das tempestades e que corre ao mar quando o dia é de sol.
Porque sou gente. Simples, afinal.
Que constrói camuflada a vontade de aspirar ao céu.
28.04.05
*Mó
quinta-feira, abril 28, 2005
terça-feira, abril 26, 2005
Vinha meio rasgado, mutilado, húmido e ressequido, entalado na ranhura metálica.
Vinha rabiscado, selado, carimbado pelos sitíos donde veio, e pelo sítio onde chegou antes de chegar até mim.
Vinha sozinho, esvoaçado, com ar de quem sabia que não era esperado.
Quem sabia que era a coisa mais desejada naquela manhã de céu nublado.
Vinha acastanhado. Papel reciclado, como se fosse um segredo embrulhado num enredo com um remetente e um destinatário colado.
Com o meu nome desenhado.
Vinha de ti.
Entalado na ranhura da caixa do correio que fica mesmo ao lado da porta de entrada do meu canto encantado.
Agora bem mais dactilografado.
Vinha desse lado da terra onde se cantam coisas que eu não sei ler, de onde me escrevem sonhos que cantei quando encontrei perdidos.
Húmidos.
Num envelope reciclado, sozinho na ranhura metálica da caixa que tenho ao lado da porta.
Vinha com o cheiro das mãos todas que o quiseram. Das vidas de quem não tinha o nome no destinatário.
Agora cheira à saudade.
Só agora, que te vê de longe é que cheira a ti, porque cheira a mim quando não te tenho e te sinto aqui ao lado.
Vinha de ti, com o teu ar despistado e baralhado de quem sabe ver o sol num dia como o de hoje...nublado.
Fazes-me falta, tolinho...volta depressa e puxa-me as orelhas quando chegares.
Ou canta-me todos os dias...agora que sei o que dizes já te oiço aí de longe.
(a quase-musa quase-idiosincráthica salamandra*)
*Mó
Vinha rabiscado, selado, carimbado pelos sitíos donde veio, e pelo sítio onde chegou antes de chegar até mim.
Vinha sozinho, esvoaçado, com ar de quem sabia que não era esperado.
Quem sabia que era a coisa mais desejada naquela manhã de céu nublado.
Vinha acastanhado. Papel reciclado, como se fosse um segredo embrulhado num enredo com um remetente e um destinatário colado.
Com o meu nome desenhado.
Vinha de ti.
Entalado na ranhura da caixa do correio que fica mesmo ao lado da porta de entrada do meu canto encantado.
Agora bem mais dactilografado.
Vinha desse lado da terra onde se cantam coisas que eu não sei ler, de onde me escrevem sonhos que cantei quando encontrei perdidos.
Húmidos.
Num envelope reciclado, sozinho na ranhura metálica da caixa que tenho ao lado da porta.
Vinha com o cheiro das mãos todas que o quiseram. Das vidas de quem não tinha o nome no destinatário.
Agora cheira à saudade.
Só agora, que te vê de longe é que cheira a ti, porque cheira a mim quando não te tenho e te sinto aqui ao lado.
Vinha de ti, com o teu ar despistado e baralhado de quem sabe ver o sol num dia como o de hoje...nublado.
Fazes-me falta, tolinho...volta depressa e puxa-me as orelhas quando chegares.
Ou canta-me todos os dias...agora que sei o que dizes já te oiço aí de longe.
(a quase-musa quase-idiosincráthica salamandra*)
*Mó
segunda-feira, abril 25, 2005
sábado, abril 23, 2005
Agarro-me ás paredes. Agarro-me ao corrimão das escadas e desço os degraus dois a dois.
Agarro as mãos ao volante, os olhos ao relógio que nunca esteve certo.
Como qualquer coisa, bebo um copo de água morna e saio de mim.
Mais uma vez, mais uma coisa qualquer por digerir.
Mas é só amanhã que penso nisso.
A saia pelo joelho e o casaco deixado para trás.
Começa a luz a descer, alinho as garrafas todas e separo os copos um a um. Pergunto se demora muito, se amanhece já daqui a um bocadinho ou se é paz que encontro quando procuro uma má refeição...para uma má digestão de amanhã.
Ele saiu dum buraco qualquer. Um dia encontrei-o por cá e perguntei-lhe o nome, hoje ele veio, mas não lhe perguntei onde vive. Não lhe disse o meu nome e ele perguntou-me pelas asas.
"A fadinha desceu à terra."
Disse-me que não sabia onde é que eu ia, que nunca soube donde vim. Nunca chegou lá.
Não voei.
Não quis.
"Vai embora. Não chego tão alto."
"Fico. Hoje posso ficar."
Não cheirava a ti. Não bebe o mesmo vinho que tu. Não sabia a ti nem me perguntou onde é que tu estavas.
"Adoro-te princesa."
Só lhe cravei um sussurro lento nos lábios. Não eram os teus lábios, nem eram as tuas mãos nas minhas costas. Nem o fumo dos teus cigarros de madeira polida.
Era vadio aquele lugar onde ele estava, donde me pedia para fugir e depois me puxava para ficar.
Eu fiquei.
"Desci do céu para o levar comigo."
Ensinou-me que se seguram na mão os copos que pousei na mesa. Expliquei-lhe que na mão eles caem.
"Eu não posso subir outra vez."
E agarrou-me com a força duns braços que não conseguem pedir para ficar nem sabem mais dizer adeus.
"Não foi por ti que desci. Por isso fico hoje."
Ele não sabia a ti.
Mas sabia à terra, ao lugar vadio donde saiu e onde faz pose para as fotografias das vidas de quem por ele passa.
Quem nunca fica.
Apertei o casaco, faz frio lá fora. Ele estava abraçado à porta, de olhos fechados, a um vazio qualquer.
E eu saí. Com a digestão bem feita e com os braços cansados, de alguém que não consegue dizer adeus.
A ti, meu amor, que és do céu que eu deixei para trás quando te vi descer.
23 .04.05
*Mó
Agarro as mãos ao volante, os olhos ao relógio que nunca esteve certo.
Como qualquer coisa, bebo um copo de água morna e saio de mim.
Mais uma vez, mais uma coisa qualquer por digerir.
Mas é só amanhã que penso nisso.
A saia pelo joelho e o casaco deixado para trás.
Começa a luz a descer, alinho as garrafas todas e separo os copos um a um. Pergunto se demora muito, se amanhece já daqui a um bocadinho ou se é paz que encontro quando procuro uma má refeição...para uma má digestão de amanhã.
Ele saiu dum buraco qualquer. Um dia encontrei-o por cá e perguntei-lhe o nome, hoje ele veio, mas não lhe perguntei onde vive. Não lhe disse o meu nome e ele perguntou-me pelas asas.
"A fadinha desceu à terra."
Disse-me que não sabia onde é que eu ia, que nunca soube donde vim. Nunca chegou lá.
Não voei.
Não quis.
"Vai embora. Não chego tão alto."
"Fico. Hoje posso ficar."
Não cheirava a ti. Não bebe o mesmo vinho que tu. Não sabia a ti nem me perguntou onde é que tu estavas.
"Adoro-te princesa."
Só lhe cravei um sussurro lento nos lábios. Não eram os teus lábios, nem eram as tuas mãos nas minhas costas. Nem o fumo dos teus cigarros de madeira polida.
Era vadio aquele lugar onde ele estava, donde me pedia para fugir e depois me puxava para ficar.
Eu fiquei.
"Desci do céu para o levar comigo."
Ensinou-me que se seguram na mão os copos que pousei na mesa. Expliquei-lhe que na mão eles caem.
"Eu não posso subir outra vez."
E agarrou-me com a força duns braços que não conseguem pedir para ficar nem sabem mais dizer adeus.
"Não foi por ti que desci. Por isso fico hoje."
Ele não sabia a ti.
Mas sabia à terra, ao lugar vadio donde saiu e onde faz pose para as fotografias das vidas de quem por ele passa.
Quem nunca fica.
Apertei o casaco, faz frio lá fora. Ele estava abraçado à porta, de olhos fechados, a um vazio qualquer.
E eu saí. Com a digestão bem feita e com os braços cansados, de alguém que não consegue dizer adeus.
A ti, meu amor, que és do céu que eu deixei para trás quando te vi descer.
23 .04.05
*Mó
quinta-feira, abril 21, 2005
quarta-feira, abril 13, 2005
Dormes todos os dias na minha cama.
Sentes a água que escorre na pele escamada pelo sol quando todas as manhãs tomo banho.
Bebes da minha chávena, adoras o mesmo chá que eu bebo.
Bebes da minha boca, ouves com os meus ouvidos e sabes que as palavras que te dizem são as mesmas que oiço contigo.
Adormeces quando fecho os olhos, acordas quando bocejo.
Lês os meus livros, ouves as minhas músicas, escreves com as minhas mãos as coisas que te digo quando estou sozinha.
Cais nos mesmos enganos, levantas-te e puxas-me ao mesmo tempo.
Corres enquanto eu não me canso, e cansas-te sempre que salto demais.
Não sabes voar. Nem eu.
Mas sabes que é facil ver o mundo de cabeça para baixo e sentir que tens os pés no céu.
Como eu.
Apareces nos meus retratos, tens o teu cheiro nas aguarelas que pinto, nas roupas que visto, nas que dispo. Tens o teu rosto no meu espelho, as unhas nos meus dedos, o sinal perto do umbigo, outro no meio do rosto.
Como eu.
E tens os olhos iguais aos olhos que eu imagino que têm os anjos.
Castanhos, grandes, com rugas nos cantinhos.
Tens os cabelos compridos, como sempre li que tinham as princesas.
Tens um jeito desengonçado de andar pela rua, tropeças com sapatos altos e ris-te muito quando te apaixonas.
Tens tudo o que eu sou.
E percebi que só contigo é que eu posso andar pelo mundo sempre com a certeza que és o meu porto seguro toda a vida. O meu caminho para todos os outros apeadeiros onde passar. Talveaz outros portos onde atraque.
Talvez outras mãos, outro rosto no meu espelho, outros olhos, de outro anjo.
Talvez tudo. Talvez para sempre.
(acordo de manhã e nunca durmo acompanhada. No espelho do meu quarto não vejo nada atrás de mim. Tomo banho sozinha, vivo com os olhos arregalados e os cabelos torcidos numa trança.
Agora, antes de dormir, sorrio para dentro. Apaixonei-me por mim.)
13.04.05
*Mó
Sentes a água que escorre na pele escamada pelo sol quando todas as manhãs tomo banho.
Bebes da minha chávena, adoras o mesmo chá que eu bebo.
Bebes da minha boca, ouves com os meus ouvidos e sabes que as palavras que te dizem são as mesmas que oiço contigo.
Adormeces quando fecho os olhos, acordas quando bocejo.
Lês os meus livros, ouves as minhas músicas, escreves com as minhas mãos as coisas que te digo quando estou sozinha.
Cais nos mesmos enganos, levantas-te e puxas-me ao mesmo tempo.
Corres enquanto eu não me canso, e cansas-te sempre que salto demais.
Não sabes voar. Nem eu.
Mas sabes que é facil ver o mundo de cabeça para baixo e sentir que tens os pés no céu.
Como eu.
Apareces nos meus retratos, tens o teu cheiro nas aguarelas que pinto, nas roupas que visto, nas que dispo. Tens o teu rosto no meu espelho, as unhas nos meus dedos, o sinal perto do umbigo, outro no meio do rosto.
Como eu.
E tens os olhos iguais aos olhos que eu imagino que têm os anjos.
Castanhos, grandes, com rugas nos cantinhos.
Tens os cabelos compridos, como sempre li que tinham as princesas.
Tens um jeito desengonçado de andar pela rua, tropeças com sapatos altos e ris-te muito quando te apaixonas.
Tens tudo o que eu sou.
E percebi que só contigo é que eu posso andar pelo mundo sempre com a certeza que és o meu porto seguro toda a vida. O meu caminho para todos os outros apeadeiros onde passar. Talveaz outros portos onde atraque.
Talvez outras mãos, outro rosto no meu espelho, outros olhos, de outro anjo.
Talvez tudo. Talvez para sempre.
(acordo de manhã e nunca durmo acompanhada. No espelho do meu quarto não vejo nada atrás de mim. Tomo banho sozinha, vivo com os olhos arregalados e os cabelos torcidos numa trança.
Agora, antes de dormir, sorrio para dentro. Apaixonei-me por mim.)
13.04.05
*Mó
domingo, abril 10, 2005
Sempre foi difícil acreditar nos encontros pouco repensados, sem datas marcadas, viagens programadas e regressos certos.
Mas acreditar em encontros pouco repensados que têm tudo a bater tão certo ainda é mais dificil.
Abro o "fakeiro" todo quando me lembro das coisas que foram só nossas...e eu não sabia que vocês existiam...
...agora já não sei como é que podem deixar de existir.
O acaso foi incrivel, mas impiedoso. Tinhamos mesmo data marcada, e dia para voltar...pra proxima atiramos mesmo os telefones pela janela e ficamos por aí...
afinal, acabei por não aprender a dar chutos na bola, nem "toladinhas" de jeito...
afinal, foi só o começo, "sócios..."**
Mas acreditar em encontros pouco repensados que têm tudo a bater tão certo ainda é mais dificil.
Abro o "fakeiro" todo quando me lembro das coisas que foram só nossas...e eu não sabia que vocês existiam...
...agora já não sei como é que podem deixar de existir.
O acaso foi incrivel, mas impiedoso. Tinhamos mesmo data marcada, e dia para voltar...pra proxima atiramos mesmo os telefones pela janela e ficamos por aí...
afinal, acabei por não aprender a dar chutos na bola, nem "toladinhas" de jeito...
afinal, foi só o começo, "sócios..."**
se te amei foi porque te menti.
Se não houvessem motivos para olhar para trás e chorar não saberia o porque de querer olhar pra frente e não ter vontade de repetir tudo.
Continuar a tentar. Sou eu prostrada num lugar onde já não há restos de cinza. Onde tudo que aconteceu antes desta manhã já não tem como continuar a esvoaçar por aí...
Sei a verdade toda sobre tudo o que me interessa acreditar, sei as mentiras todas das falsidades que inventei para que as coisas em que me interessa crer sejam todos os segundos mais reais.
Não há restos de cinza. Só corpos acabados, com significados inventados.
Se te disse algum dia que a minha fraqueza existia nos joelhos, era porque queria que mos tocasses, nunca porque os sentia a desfalecer. Se algum acaso fez com que escorregasse numa piedade qualquer duma verdade que fingi esconder não foi porque não to quisesse contar, mas quis que pensasses que também eu sei como errar. Nunca que achasses que erro sem o saber.
Se nunca te disse que te queria era porque não queria mesmo. Mas se não fiquei calada, era porque queria que me quisesses a querer-te. Queria que fizesses qualquer coisa para eu alienar as palpitações todas, desacerta-las e entrega-las a ti, ter vontade de te mentir e dizer-te que era tua.
Se te rasguei os lábios, se te mordi o cérebro, foi só porque queria ter-te metamorfoseado com uma estaca no coração.
Se te chamei ontem, ou noutro ontem qualquer, não foi para que viesses.
Foi para te dizer que não voltasses, para que não mais soubesse que um dia voltaria a ver-te partir.
Se te amei foi porque te menti.
Se não houvessem motivos para olhar para trás e chorar não saberia o porque de olhar pra frente e não ter vontade de repetir tudo.
Se te amei foi porque te menti, foi porque te amo hoje.
03.04.05
*Mó
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