domingo, maio 14, 2006

Tenho uma especial adoração por todas as vezes em que já tropecei no meio da rua.

Levanto-me sempre, com ou sem joelho esmurrado e rio-me muito, como se fosse a minha mãe a acordar-me com cócegas logo pela manhã para ir para a escola. A maior parte das vezes até me levanto e nao me lembro de sacudir a roupa, de voltar ao meu estado pré-queda, porque não vou dizer a mim mesma que nada aconteceu...

Levanto-me super tonta, numa insegurança tal que parece que nada me pode fazer mal, porque as coisas más não são cobardes, e não se vão aproveitar da minha fragilidade.

Depois do primeiro passo há um processo visceral que faz de mim uma rainha...já não caminho, flutuo, e o chão que me arranhou a pele agora é mais um excerto de nuvem por andar. Sorrio a quem passa por mim nessa tranquilidade, sorrio também a quem corre porque sei que não tardará para tropeçarem também...como toda a gente.

Depois o passo vai ficando firme outra vez, mais pesado a cada metro, mais rude a cada paragem. E arrasto os pés com as pernas, mantenho sempre a cabeça firme e num processo de inversão, torço o pescoço até conseguir focar o céu. A nuvem do chão está lá em cima outra vez e eu começo a deixar de saber por onde ando...

Até que, de cabeça apontada a Zénite, esbarro em qualquer coisa, tremem-me os joelhos e caio outra vez.
Sei que o processo se repete, volto a ter as mãos da minha mãe na minha barriga enquanto me acorda com cócegas e rio-me muito.



Eu sei que um dia eu vou saber ficar numa fragilidade tão leve que alguém que caminha por cima da nuvem vai-me levar de mão dada...e vai-me acordar todas as manhãs.

(o algodão doce é uma nuvem , sabias? e as coisas têm coisas dentro delas, como as mãos têm linhas com destinos...)

*Mó

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