Agitei os braços com muita força para ver se conseguia voar. Por pouco não fiquei sem articulações.
(dentro da concha ainda se ouve o mar, gaivota?)
Mó*
(Wake... from your sleep
The drying of your tears
Today.. we escape
We escape.
Pack and get dressed
Before your father hears us
Before.. all hell.. breaks loose.
Breathe... keep breathing
Don't lose.. your nerve.
Breathe... keep breathing
I can't do this.. alone.
Sing us a song
A song to keep us warm)
Radiohead - Exit music (for a film)
sexta-feira, maio 26, 2006
terça-feira, maio 23, 2006
Tenho 30 minutos e meio para encher esta folha.
Quero fazer dos meus dedos peregrinos de um pleonasmo de vidas banais e habituar-me à ideia de ficar descalça sem ver o sol a nascer.
As vontades também são contagens decrescentes no relógio dos encantos, como são sempre segundos finais todos aqueles que antecedem uma vida eterna. Tudo em contra-relógio, menos eu, que vou tendo só 28 minutos para dizer o que penso sem sentir o que digo.
Magoa-me. Magoa-me muito não ter pêndulos na alma, como quem tem relógios nos pulsos.
Descalça, o chão é mais quente e as mãos mais pesadas, a gravidade é membro de paz e viaja em mim como se fosse ela mesma uma peregrina do que devo ser. Do que não sou.
Perco-me pelos caminhos e páro em portagens com retornos em contra-mão - regresso quase sempre e trago às costas mais vértebras que, ao fazerem com que eu cresça também destroem o equilíbrio vertical da minha postura inicial. Vou tombando, mas debruçada para trás, até ficar em ponte, virada para cima e de olhos abertos, para depois, no fim dos voos todos, descansar deitada e de olhos fechados.
Fico realmente chateada quando me acontecem desiquilíbrios assim. Tenho pouco menos de 25 minutos para preencher as linhas que me faltam e já existiu o meu "grand final" no parágrafo anterior. Não meço o tamanho dos espaços antes de trepar aos seus limites e depois canso-me...páro, recomeço e acabo por não chegar a lado nenhum - caminhar é o lugar final.
Mais dois ou três vocábulos, mais uma ou duas linhas e volta tudo ao normal - as horas mudam na Primavera, e no Outono também, porque as coisas grandes das espécies totais sabem que há sempre um ou outro ajuste por fazer.
Hoje não me apetece cair. Descalça ainda, e com uma ou outra vértebra a mais, tombo para o céu como seria previsto mas não rastejo de tornozelos cambaleados - amanhã farei as coisas banais de andar por aí com noção do tamanho dos lugares que calço.
Atraso o relógio e desligo o alarme.
Tenho 20 minutos mais a vida inteira para as frases todas das folhas todas do mundo todo que é meu.
*Mó
23.05.06
Quero fazer dos meus dedos peregrinos de um pleonasmo de vidas banais e habituar-me à ideia de ficar descalça sem ver o sol a nascer.
As vontades também são contagens decrescentes no relógio dos encantos, como são sempre segundos finais todos aqueles que antecedem uma vida eterna. Tudo em contra-relógio, menos eu, que vou tendo só 28 minutos para dizer o que penso sem sentir o que digo.
Magoa-me. Magoa-me muito não ter pêndulos na alma, como quem tem relógios nos pulsos.
Descalça, o chão é mais quente e as mãos mais pesadas, a gravidade é membro de paz e viaja em mim como se fosse ela mesma uma peregrina do que devo ser. Do que não sou.
Perco-me pelos caminhos e páro em portagens com retornos em contra-mão - regresso quase sempre e trago às costas mais vértebras que, ao fazerem com que eu cresça também destroem o equilíbrio vertical da minha postura inicial. Vou tombando, mas debruçada para trás, até ficar em ponte, virada para cima e de olhos abertos, para depois, no fim dos voos todos, descansar deitada e de olhos fechados.
Fico realmente chateada quando me acontecem desiquilíbrios assim. Tenho pouco menos de 25 minutos para preencher as linhas que me faltam e já existiu o meu "grand final" no parágrafo anterior. Não meço o tamanho dos espaços antes de trepar aos seus limites e depois canso-me...páro, recomeço e acabo por não chegar a lado nenhum - caminhar é o lugar final.
Mais dois ou três vocábulos, mais uma ou duas linhas e volta tudo ao normal - as horas mudam na Primavera, e no Outono também, porque as coisas grandes das espécies totais sabem que há sempre um ou outro ajuste por fazer.
Hoje não me apetece cair. Descalça ainda, e com uma ou outra vértebra a mais, tombo para o céu como seria previsto mas não rastejo de tornozelos cambaleados - amanhã farei as coisas banais de andar por aí com noção do tamanho dos lugares que calço.
Atraso o relógio e desligo o alarme.
Tenho 20 minutos mais a vida inteira para as frases todas das folhas todas do mundo todo que é meu.
*Mó
23.05.06
sábado, maio 20, 2006
quarta-feira, maio 17, 2006
Não sei...
Não sei se te encontrei.
Se te procurei, não sei.
Não sei se me esbarrei
no que de ti não inventei.
Não sei
se te escolhi.
Ou como foi que te vi.
Não sei
se me escondi.
Se me espelhei,
não sei.
Nem sei se foi por ti
que chamei.
Ou se me encontraste,
não sei.
Se foi em mim
que esbarraste,
não sei também.
Não sei
se a vida tem
o que é de ninguém...
Se me tem
se te tem
se nos tem.
Só sei
que o que não sei
é o que quero saber mais além.
(que esta história é tua,
e minha
e nossa também).
*Mó
17.05.06
Se te procurei, não sei.
Não sei se me esbarrei
no que de ti não inventei.
Não sei
se te escolhi.
Ou como foi que te vi.
Não sei
se me escondi.
Se me espelhei,
não sei.
Nem sei se foi por ti
que chamei.
Ou se me encontraste,
não sei.
Se foi em mim
que esbarraste,
não sei também.
Não sei
se a vida tem
o que é de ninguém...
Se me tem
se te tem
se nos tem.
Só sei
que o que não sei
é o que quero saber mais além.
(que esta história é tua,
e minha
e nossa também).
*Mó
17.05.06
domingo, maio 14, 2006
Tenho uma especial adoração por todas as vezes em que já tropecei no meio da rua.
Levanto-me sempre, com ou sem joelho esmurrado e rio-me muito, como se fosse a minha mãe a acordar-me com cócegas logo pela manhã para ir para a escola. A maior parte das vezes até me levanto e nao me lembro de sacudir a roupa, de voltar ao meu estado pré-queda, porque não vou dizer a mim mesma que nada aconteceu...
Levanto-me super tonta, numa insegurança tal que parece que nada me pode fazer mal, porque as coisas más não são cobardes, e não se vão aproveitar da minha fragilidade.
Depois do primeiro passo há um processo visceral que faz de mim uma rainha...já não caminho, flutuo, e o chão que me arranhou a pele agora é mais um excerto de nuvem por andar. Sorrio a quem passa por mim nessa tranquilidade, sorrio também a quem corre porque sei que não tardará para tropeçarem também...como toda a gente.
Depois o passo vai ficando firme outra vez, mais pesado a cada metro, mais rude a cada paragem. E arrasto os pés com as pernas, mantenho sempre a cabeça firme e num processo de inversão, torço o pescoço até conseguir focar o céu. A nuvem do chão está lá em cima outra vez e eu começo a deixar de saber por onde ando...
Até que, de cabeça apontada a Zénite, esbarro em qualquer coisa, tremem-me os joelhos e caio outra vez.
Sei que o processo se repete, volto a ter as mãos da minha mãe na minha barriga enquanto me acorda com cócegas e rio-me muito.
Eu sei que um dia eu vou saber ficar numa fragilidade tão leve que alguém que caminha por cima da nuvem vai-me levar de mão dada...e vai-me acordar todas as manhãs.
(o algodão doce é uma nuvem , sabias? e as coisas têm coisas dentro delas, como as mãos têm linhas com destinos...)
*Mó
Levanto-me sempre, com ou sem joelho esmurrado e rio-me muito, como se fosse a minha mãe a acordar-me com cócegas logo pela manhã para ir para a escola. A maior parte das vezes até me levanto e nao me lembro de sacudir a roupa, de voltar ao meu estado pré-queda, porque não vou dizer a mim mesma que nada aconteceu...
Levanto-me super tonta, numa insegurança tal que parece que nada me pode fazer mal, porque as coisas más não são cobardes, e não se vão aproveitar da minha fragilidade.
Depois do primeiro passo há um processo visceral que faz de mim uma rainha...já não caminho, flutuo, e o chão que me arranhou a pele agora é mais um excerto de nuvem por andar. Sorrio a quem passa por mim nessa tranquilidade, sorrio também a quem corre porque sei que não tardará para tropeçarem também...como toda a gente.
Depois o passo vai ficando firme outra vez, mais pesado a cada metro, mais rude a cada paragem. E arrasto os pés com as pernas, mantenho sempre a cabeça firme e num processo de inversão, torço o pescoço até conseguir focar o céu. A nuvem do chão está lá em cima outra vez e eu começo a deixar de saber por onde ando...
Até que, de cabeça apontada a Zénite, esbarro em qualquer coisa, tremem-me os joelhos e caio outra vez.
Sei que o processo se repete, volto a ter as mãos da minha mãe na minha barriga enquanto me acorda com cócegas e rio-me muito.
Eu sei que um dia eu vou saber ficar numa fragilidade tão leve que alguém que caminha por cima da nuvem vai-me levar de mão dada...e vai-me acordar todas as manhãs.
(o algodão doce é uma nuvem , sabias? e as coisas têm coisas dentro delas, como as mãos têm linhas com destinos...)
*Mó
sexta-feira, maio 05, 2006
Continuei sem te falar e continuei sem te ouvir.
Existe na linguagem uma propriedade qualquer que faz com que os signos se convertam em símbolos, e que daí se façam contextos. Existe em cada palavra uma carga que me intimida e que me faz assim... calada. Quieta, às vezes. Como quando se é apagado do mundo num vendaval de infinitos. Num silêncio cheio de ruídos de memórias e de passados que não passam nunca.
Continuei sem te falar. E tu, até hoje, continuas sem te ouvir.
*Mó
05.05.06
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