Costumavas dizer:
-Quando penso em ti, vejo-te com a cabeça pousada nos meus joelhos, a olhar para mim com os olhos grandes. Ás vezes tens os olhos fechados e estás a dormir, mas o que interessa é que é assim que eu penso em ti: com a cabeça pousada nos meus joelhos, quieto, enquanto passo a mão, devagar, pela escova mole dos teus cabelos.
(...)
É sobretudo agora, que já aqui não estás, que gosto de imaginar-me tal qual tu então me vias
-Com a cabeça pousada nos meus joelhos, quieto, enquanto passo a mão, devagar, pela escova mole dos teus cabelos.
Mas não posso já aninhar-me no teu colo e a verdade é que mesmo tu, tenho a certeza, não me recordas já assim. Só se fosses parva e preferisses enganar-te, preserverando em não querer entender quem eu sou.
(...)
O amor é para os parvos, eu sei, e a vida sem motivos é para os pobres de espírito; para os que não têm coragem, nem força, nem ânimo para morrer. (...)Pareço um mau actor de um mau filme, eu sei. Um desses com poucos diálogos e quase nenhuma acção, em que as pessoas conversam com as cadeiras e com as paredes com palavras que já ninguém usa, com frases que ninguém diz. É um bom motivo para que não voltes, eu sei(...)
Mas somos dois corpos ainda. Dois corpos a que falta uma meia parte, a tua presença, ainda que as vezes, à noite, quando o ruído da cidade cessa e não se escuta mais do que este silêncio cheio de pequenos sons, eu possa pressentir os teus passos a caminhar pela sala, espiando-me enquanto escrevo, calado, sem nada dizer.
É então que me ergo e apago a luz e vou aninhar-me no sofá que está peto da janela. Poiso a cabeça e fico
-Quieto
como um gato, sentindo a impossibilidade dos teus dedos massajando, devagar, a escova mole dos meus cabelos.
(...)
Manuel Jorge Marmelo - "O Amor é Para os Parvos"
5 comentários:
Percebo agora porque me chamam, em brincadeiras parvas de miudos parvos, de parva.
Parva, eu me confesso, totalmente parva.
diz ao Manuel Jorge Marmelo que "perseverando" nąo esta' mal escripto
beijinhos ortogrąphicos
do Jonas
sou eu outra vez, Mó
vai ler isto para teres uma ideia sobre como vai a minha terra:
http://morrecabra.blogspot.com/2005/06/simbolismo.html
aahhh saudade...
Olá salamandra que é uma gaivota e que em tempos foi sereia !!
Adorei a tua visita... tanto mais que da segunda vez que o Pescador nasceu fê-lo pelas mãos de uma sereia, e junto do sua barca voam e voa uma gaivota muito especial!!
Do pouco que vi do teu céu que outrora foi mar... é azul como deveria ser, calmo .. gostei muito !!
"Se o amor é para parvos... então é sou o maior parvo que existe no mundo..."
Bj doce..., porque tambem só o sei dar assim ou adoçicado ;-) !!
Pescador
NEGRA SOMBRA
cando penso que te fuches
negra sombra que me asombras
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa
cando maxino que es ida
no mesmo sol te me amostras
i es a estrela que brila
i es o vento que zoa
si cantan, es ti que cantas
si choran, es ti que choras
i es o marmurio do río
i es a noite i es a aurora.
en todo estás e ti es todo
pra min i en min mesma moras
nin me abandonarás nunca
sombra que sempre me asombras
Rosalía de Castro
FOLLAS NOVAS
1880
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