sábado, janeiro 29, 2005

love story theme


 

Where do I begin to tell the story
Of how great a love can be
The sweet love story that is older than the sea
The simple truth about the love she brings to me

Where do I start
With her first hello
She gave new meaning to this empty world of mine
They'll never be another love another time
She came into my life and made the living fine

She fills my heart
She fills my heart with very special things
Angel songs and wild imaginings
She fill my soul with so much love
That any where I go I'm never lonely
With her around who could be lonely
I reach for her hand
She's always there

How long does it last
Can love be measured by the hours in a day
I have no answers now
But this much I can say
I know I'll need her until the stars all burn away
And she'll be there

How long does it last
Can love be measured by the hours in a day
I have no answers now
But this much I can say
I know I'll need her until the stars all burn away
And she'll be there


Andy Williams - Love Story theme

sexta-feira, janeiro 28, 2005

music-box

Change your heart, look around you
Change your heart, it will astound you
I need your loving like the sunshine
And everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime

Change your heart, look around you
Change your heart, it will astound you
I need your loving like the sunshine
And everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime


Beck - BSO "Eternal Sunshine of the Spotless Mind"

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Gosto De Ti

Chamavas por mim durante a noite. Enquanto isso, eu sonhava contigo.

Calcávamos as folhas secas, varridas pelo gelo do ar, salpicadas de rasgos, recortadas no desenho mais perfeito. Era manhã bem cedo, tínhamos tanto para dizer. Davas pulinhos com os olhos quando me arregaçavas uma gargalhada, e eu gostava de ti assim. Passávamos pelo lago sem paredes, havia sempre um peixe ou outro mais atrevido que fazia borbulhar o pano da água quando nos vinha dizer "Olá!".

Íamos sempre para o mesmo banco, ainda o dia era murmúrio. Sentávamo-nos durante pouco tempo, só enquanto olhávamos os nenúfares e as rosas que tinham desparecido desde o verão. Ás vezes ponho-me a pensar se tu realmente vias o mesmo que eu quando não te dizia o que estva a ver.
Talvez por isso não saiba até hoje o que é que foi nosso que também foi meu, e o que foi meu sem nunca ter chegado a existir connosco. Talvez por isso tenhamos visto o peixe dourado nesse dia.

-É a lua, meu amor, os peixes dourados moram no céu, muito longe de nós.

Deitávamo-nos sempre no banco ainda molhado de orvalho, tingido de inverno. Tinha a madeira descascada e o ferro avermelhado pela oxidação, tinha uma cruz gravada numa das tábuas e as iniciais "G D T".
Já lá estavam antes de nós.

Mas foram nossas desde o primeiro dia em que nos deitamos de costas, com a cabeça de um apoiada no ombro do outro, as mãos em cima do ventre e as pernas esticadas.
Passávamos assim dias inteiros, adormecidos pelo cheiro da seiva e do feno, do lodo e do lugar do mundo onde não há peixinhos dourados nem lagos assim.

Há 20 anos que marco os meus pés nos sítios onde o chão não é severo, que desenho rotas e coordenadas sem o rigor da linha nem a vontade das formas, sem o não saber do fim, sem querer conhecer o linho dos segundos.

Já fui pétala de flor de algodão, dauqelas que agarram o vento e correm abraçadas a ele até transparecerem no caos do vazio das coisas inúteis. Fui cinderela e cigana e princesa tantas vezes que já nem sei quantos carnavais inventei.

Um dia, passeava entre juncos erguidos e folhas secas rasgadas. Não tinha mais que metade do tamanho das "pessoas grandes", e dava muitos pulinhos nos olhos como tu, meu amor. Nesse dia, o sol era vermelho e as árvores não tinham roupa nem cobertor. Já via peixes dourados e sabia que um dia ia perceber como é que eles falavam, ia saber se também gostavam de brincar com bonecas e inventar histórias, como eu.
Brinquei ás caçadinhas com as formigas e apanhei uma perto de um abismo - uma frincha na madeira dum banco.
Para conseguir salva-la, agarrei no primeiro pau que vi e tentei persuadi-la a subi-lo e, assim, garantir que nada de mal lhe acontecia. Ao tocar-lhe com a madeira, devagarinho, ouvi um som...Olhei para trás sem impasse ou prudência e quando voltei à minha formiguinha, vi que o maldito pau a tinha decapitado.

Chorei muito, nesse dia.
Com o junquinho desenhei uma cruz bem funda na madeira húmida, e quis escrever qualquer consolação à minha vitima: "Gosto De Ti" pareceu-me bem. Como não tinha espaço, gravei as iniciais.


Chamavas por mim todos os dias. Pela explosão da manhã ou no recolher dos fogos, ao início da noite. Chamavas os peixes dourados e o passo desengonçado do sapateado dos meus pulinhos até ti.

Está frio hoje. Partiram uma das tábuas do banco e o lago já não tem peixinhos. Passo aqui dias inteiros, à noite chamo por ti e sonho contigo.

- Gosto De Ti... Gosto muito.


23.01.05

*Mó


Passagem de anooooooo!!!!!!!! Vai meio atrasado o post, mas parece mesmo que foi ontem. Beijinhos pa todos da portuguesinha...adoro-vos muito*** 

sexta-feira, janeiro 21, 2005

A OUTRA DO ESPELHO

A OUTRA DO ESPELHO


Era uma pedra no caminho.
E era seiva.


Nunca soube bem onde fico quando fico por aí, entre o buraco do chão e o tecto lá de cima, onde moram os deuses. Já me achei fada, e há dias em que acordo com uma cauda e as unhas pintadas de preto.

Deito-me sempre tarde e durmo completamente coberta. Mal respiro.
Deito-me sempre na mesma posição, acordo sempre numa posição diferente e sempre igual áquela em que me deitei.

Já me achei sonâmbula. Cheguei a dar por mim caída em frente a um espelho qualquer que ainda não vi. Todas as vezes com um corpo diferente, na posição do costume e sempre coberta por completo. Uma respiração difícil e um colchão amorfo.

Era uma lomba de chuva, uma duna de termos e conceitos e pré-conceitos que escorrem pelos espinhos das lágrimas que não se soube chorar.

Durmo sempre completamente coberta, sempre em frente a um espelho que nunca vi.


15.01.05
*Mó

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Máscara

Estalavas os dedos
enquanto chamavas os meus
medos
e os matavas.

Quando torcias os cabelos
ondulavas em novelos
partituras de boca cheia,
canduras de palavras
imaturas
e vozes de sereia.

Punhas sempre esse ar
de efémero solstício
(que desperdício é ter de acordar).

Estalavas os dedos,
bebias leite escaldado,
desdizias as coreografias
dos teus enredos,
do teu lado enfeitiçado

e dançavas mascarado.


15.01.05
*Mó

sexta-feira, janeiro 14, 2005

...e chamei casa a esse lugar...



Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar

Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar


E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão

Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir

E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão

Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
Eu sei que nenhuma vai ganhar

Jorge Palma

sexta-feira, janeiro 07, 2005

primeiro de janeiro (segundo)

(...)
Ficaram quietos, um ao lado do outro, sem dizerem nada. Ouvia-se o mascar salivado dos caramelos e as respirações dos narizes entupidos.

-Tens uma mochila gira...

Rodou a cabeça. Estava frio, ali, sem a luz do sol. 10 metros acima o céu era azul, ali os dois focos também o eram.
Sorriu, 15 segundos depois desceu os olhos já com as retinas ressequidas.

-Eu sou o Miguel. Vives aqui perto?
-Mais ou menos.


Levantou-se, fixou-o novamente. Dois degraus abaixo ficava à altura dele, sentado. Tombou o corpo indefinido e segurou-lhe a nuca com as duas mãos. Chegou perto sem nunca abrir os olhos, ouvia o esganiçado do respirar. Ele tinha os lábios quentes, ela tinha o nariz frio, luvas nas mãos.
Encostaram-se, tocaram-se. Ele arregalou bem os faróis e deixou os lábios soltos. Os pés tremeram-lhe, agarrou-se ao degrau onde estava sentado e eesticou muito o pescoço.
Ficou um sabor a rebuçado de café, uma doçura colada nos dentes.

-Eu não gosto de café, Miguel. Fica com ele, não quero mais.

Virou costas, desceu a correr, de dois em dois degraus. Caiu-lhe o chapuz, tinha uma trança no cabelo.


01 de Janeiro de 2005

Segurou o gato branco. Procurou algum ferimento, alguma mazela. No pescoço, tinha uma coleira.
Segurou-lhe a nuca e desamarrou a fivela. Trazia um papel amarrado, abriu-o. Levantou-o do chão com a mão esquerda e foi andando enquanto lia o bilhete.

-Desculpe, encontrei este saco no chão, é seu?
-É sim, obrigada...


Escapou-lhe o gato das mãos, amassou o papel entre os dedos.

-Convido-a para um café, a esta hora da manhã seria perfeito...
-Não tomo café, e de qualquer forma tenho um combóio a apanhar.


Chegou à estação. Meteu a mão no bolso, depois de descalçar a luva, e sentiu o pedaço de papel amarrotado. Tirou os óculos de sol, abriu a saca rosa e colocou-os lá, ao mesmo tempo que lia as entrelinhas dobradas:

"Se o encontrar, fique com ele, não o devolva...a não ser que não goste dele."

Sorriu. Entrou na carruagem e ao terceiro degrau voltou a sair.
Comprou um rebuçado de café e talvez tenha perdido a viagem...talvez tenha acabado de chegar.


01.01.05
*Mó

domingo, janeiro 02, 2005

primeiro de janeiro.

Garrafas partidas pela rua. Pontapeadas, rendidas aos escombros da noite que acabou.

- O chão dói nos olhos, mamã!
- É a luz, como no arco-íris.
- Mas o arco-íris está mais longe, não está?

01 de Janeiro de 2005

Trazia uma saca rosa na mão direita. Tinha a mão esquerda em punho, escondida na manga comprida. Usava luvas pretas, um casaco desbotado, a trança desfeita e os passos coreografados para passarem entre os vidros sem tilintar toda a cidade. Partiria hoje.

10h:36m
ninguém passa na rua. Uma ressaca urbana ou um caos adormecido? Um acordar?

Nas portas fechadas ainda existem restos de tons vermelhos e brancos, anjos e penugens e alegorias ao velho das barbas.
Ao fundo, muito longe, pareceu-lhe ver um gato branco. Aproximou-se, tinha um par de pérolas azuis que a observavam, o pelo curto não reagia à velocidade do vento que lhe desmanchava a trança a ela.

01 de Janeiro de 1996


10h:25m
Recebeu uma mochila pelo Natal. Na altura, chorou sem ninguém ver, ela detestava aquela cor, sonhava que um dia havia de ir para a tropa como “os meninos da escola da mana”.

- Mas é tão linda, filhinha...
- Não gosto! Sabes que eu detesto cor-de-rosa!

- Vamos dar uma volta, ver as ruas a dormir...
- Não quero!
- Vê como falas com a avó!
- Já disse que não quero!

10h:32m

Tem os olhos inchados e tem vergonha de ter de os abrir. Mesmo sem ninguém para ver, ou talvez por isso mesmo, sentia falta de alguma compactuação com aquele desconforto birrento. Levava a mochila rosa que a avó ofereceu e deixou os sorrisos todos trancados no quarto.

- Anda comigo, vou-te mostrar a camisola que o tio ia comprar.

Entre duas casas havia uma passagem muito estreita. Dois lanços de nove escadas cada, deglutidos por duas paredes com quase 10 metros de altura. Não tinha corrimão, e a sétima escada do segundo lanço escasseava em alguns pedaços.
Olhou para trás, não ouvia já a avó...desatou a subir.
Sorriu à socapa, enquanto apertava os cordões com a maior fugacidade. Dois degraus depois e tropeçou no laço mal feito.

10h:36m
Ficou sentada, à espera que alguém a encontrasse, à espera de ter vontade de ser encontrada.
Enfiou a cabeça no capucho amarelo, calçou as luvas e apoiou os cotovelos nos joelhos, o queixo nos cotovelos. Pestanejou muito devagar, tão devagar que, ao abrir as pálpebras pesava-lhe já luz da sombra. Ou talvez não fosse isso, havia dois focos que a fitavam.
Ele era loiro, tinha os cabelos muito curtinhos como os meninos malandros costumam ter.

- Queres?
- São de quê?
- De café, só gosto destes rebuçados, os outros colam nos dentes.

(continua...)

no fundo


 Posted by Hello