[Quando a luz dos olhos teus e a luz dos olhos meus resolvem-se encontrar
ai que bom que isso é, meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar]
primeiro achava que um menino e uma menina podiam gostar tanto um do outro que andavam de maos dadas para nao se perderem.
eu tinha muito medo de perder as pessoas de quem gostava assim muito muito.
por isso andava de maos dadas com a minha mãe e com o meu pai.
um dia perdi-me.
e as maos vazias eram mais pesadas.
depois encontrei-os porque as maos deles nao encontraram as minhas e eles procuraram por mim.
a certa altura achei que as pessoas começavam um dia a sentir uma coisa esquisita.
nao sabia porque existia, devia ser como um virus que se apanhava como quando se andava sem casaco.
nessa altura pensava de noite com a luz apagada como seria olhar para alguem e ver essa pessoa como se fosse uma pessoa diferente das pessoas todas.
aí gostava-se muito muito e gostava-se mais ainda porque nao havia ninguem que os nossos olhos conseguissem ver daquela maneira.
depois comecei a procurar nos olhos dos outros os tais olhos que os meus olhos iam ver dessa forma meia esquisita.
e procurei muito.
os meus olhos as vezes viam outros olhos, as vezes ficavam felizes e as vezes ate tinham vergonha e eu ficava vermelha naquela parte das bochechas perto dos olhos.
as vezes os meus olhos choravam porque nao encontravam lugar nesses olhos.
outras vezes porque quando olhavam melhor ja deixavam de ver tudo outra vez.
depois inventei uns olhos para os meus.
decorei o desenho das minhas pestanas e ensaiei antes de dormir, todos os dias, os gestos todos e as pregas da minha testa quando chegassem esses olhos que condiziam com os meus.
ensaiei os choros também.
porque tinham de ser bonitas as lagrimas dos meus olhos quando sentissem essa coisa esquisita.
e depois deixei de procurar.
encontrei as vezes pestanas soltas.
as vezes pálpebras fechadas.
também vi sobrancelhas delineadas e cheguei a sentir o cheiro de água salgada em forma de gota.
um dia olhei o olho do sol que te olhava.
apontou para os teus olhos mas a luz era muita e eu nao te soube focar.
fui andando devagarinho colada nesse tom de ouro.
fui com os olhos fechados, com as mãos abertas e os braços soltos.
fui contigo e tu foste comigo com as maos dadas.
agora eu sei como é que um menino e uma menina gostam tanto um do outro.
agora eu sei que as maos que se dão e os olhos que se fecham, dão-se para que nao se percam, fecham-se para que nao se esqueçam.
(moras dentro de mim).
amo-te*
Mó*
15.10.06
2 comentários:
Adorei seu post...
Me fez lembrar dos olhos nos quais procuro os meus.
Beijos, do Brasil.
Gosto deste post porque escreves bem, e porque nele reforças a teoria Serendipity. Bj. ( ...e sim, eu também sou contra o facto de meninas de óculos de massa preta e saia branca esperarem tanto tempo nas filas da Fnac. :P)
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