Fomos embora sem despedidas.
Dissemos que seria melhor assim, que não havia mais caminho a fazer, mais sítio onde chegar. Soltamo-nos, partimo-nos e partimos, mas não nos despedimos.
Constrói-se o vazio inultrapassável que nos divide, o tempo estrutura esse abismo.
Tu de um lado, eu do outro, ainda nos vemos (cada vez mais longe).
Não me despedi nunca de ti porque não o saberia fazer ainda que o quisesse, porque nunca o quis, ainda que o soubesse, porque quando as mãos se soltaram, no dia em que fomos embora, disse em silêncio "até já".
Fui ao lugar do vento e das gaivotas, sabias? Onde te sonhei tantas vezes, onde nos reconhecemos dentro de nós, desde a nossa primeira alvorada. Ainda te vi lá, sabias? Pouco nítido, mas presente.
Ainda não me despedi de ti.
Tenho noites cheias do cheiro da tua pele, dias infinitamente pesados com a nossa saudade. Abro a memória e está lá um mar inteiro, com o vento todo, as gaivotas incontáveis, os beijos, os silêncios, as promessas e as sombras, o som da tua chegada, a ânsia do teu encontro, o grito da partida.
Não me despedi de ti, meu amor.
Não deixo que o pó sedimente o passado e o construa fechado. A ferida está aberta, não lhe vejo o tamanho para saber quanto tempo leva a curar, ou se é a melhor cura fazer com que feche.
Vou vendo aos poucos o nosso vazio e dentro dele gritam todos os erros que fizemos. Também eles não se despedem de nós.
Fomos imprudentes, irresponsáveis, impacientes. Fomos cruéis com a sorte, duros com o amor, e transformamos o tesouro em passado.
Perdemos-nos talvez, mas ainda assim não nos despedimos.
A perda é dos que não se sabem amar, mas a despedida é apenas dos que não se amam mais.
06.06.2010
*Mó
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