Burn it blue
Heart running on empty
So lost without you
But the night sky blooms with fire
And the burning bed floats higher
And she’s free to fly…
Woman so weary
Spread your unbroken wings
Fly free as the swallow sings
Come to the fireworks
See the dark lady smile
She burns…
And the night sky blooms with fire
And the burning bed floats higher
And she’s free to fly…
Burn this night
Black and blue
So cold in the morning
So cold without you
(...)"
Quero tocar-te mas tenho as mãos secas.
No frio que vem fazendo, deixei-me congelar, e agora que te quero tocar, já não sou capaz. De tão frias, as mãos secaram, a pele enregelou, abriram golpes e inflamou. Quero tocar-te, mas tenho as mãos muito secas.
Quero olhar-te, mas já não sei.
Deixei de ver no dia em que te vi. Perdi os enquadramentos todos, encheste-me a tela mental e só te soube pintar a ti. Deixei de olhar porque dizias-me que eras o mundo inteiro dentro de ti e que esse mundo inteiro era tudo o que eu podia querer. Deixei de ver porque acreditei em ti.
Acreditei sempre tanto em ti.
Mas agora está muito frio, e eu virei-me para dentro. Demorei a saber onde estava o que ainda sobrava de mim depois do ciclone que foste.
Mas uma névoa embrulhou-me os sentidos e fez-me correr tão devagar que reconheci o caminho.
Virei-me para dentro, para me aquecer. Mas tu não estavas lá, e não encontrei o teu cheiro pelos cantos desse lugar abandonado.
Só vi pó, e memórias que eu mal reconhecia.
Vi-me a mim. E deixei de te ver nesse dia.
Agora quero ver-te, mas já não consigo.
Deixei de ouvir-te.
Cantavas as músicas que eu quis que fossem minhas, que eu inventei que era eu a cantá-las. Acompanhava-te, e dançava, e sorria até chorar. Cantavas também, e eu sabia os teus poemas de cor.
Mas tu nem sabias que eu escrevia...
Tu não lias os meus poemas nem cantavas as minhas canções.
Com frio, liguei o fogo e incendiei-me. Dancei pela madrugada até ouvir outra vez o rouxinol. Cantei as minhas músicas, com saias compridas...Yo soy como el chile verde, Llorona...
Dancei despenteada, fiquei sem voz, de tanto ter cantado para mim.
Agora não reconheço o teu som. Falas e eu oiço o teu eco. Não entendo mais o que cantas, os teus poemas deixaram de ser os meus, reencontrei-me nas minhas palavras, naquelas que nunca soubeste ler.
Quero chegar a ti, mas já não consigo andar.
De tanto ter dançado nessa noite, fiquei deitada, dias a fio, noites em claro, a cantar por dentro, a ouvir-me, e saborear os meus suspiros, a ouvir a solidão. Já não sei andar, só consigo dançar. E agora, que queria chegar a ti, entendi que os teus passos não são os meus passos, não temos o mesmo ritmo, não andas descalço, não vamos pelo mesmo caminho.
Queria chegar a ti, mas não sei onde te escondes, nem sei se te sei procurar. Não sei do teu lugar nem dos teus segredos, não sei dos teus sonhos.
E os meus sonhos voltaram a ser donos de mim. Vieram buscar-me, e eu fui.
E agora, com as mãos secas, os olhos que não te vêm, os sons que não reconheço mais, os passos que não sei dar, vou voar...
De mãos abertas, olhos fechados, no silêncio dum caminho que não chegaste a conhecer.
O meu lugar é onde os sonhos são vividos descalça, de saia comprida, em frente a um fogo que me faz despenteada, livre, feliz.
Até um dia, meu amor.
*Mó
28.12.08
Caetano Veloso & Lila Downs. Burn it Blue.