quarta-feira, junho 28, 2006

Andavas por aqui à tanto tempo. Enfiado dentro duma máscara que te tornou parte dum mobiliário que eu via sem notar, todos os dias.
Caíam as folhagens no outono, crescia e morria a luz nos dias de sol, e as horas passavam ao ritmo de quem vai sabendo saborear cada parcela do céu. Asc oisas aconteciam á minha volta, iam existindo personagens que se evaporavam, e que davam lugar a outras, que se evaporavam também. Tu ias atravessando os meus lugares, mascarado, sem me dizeres que andavas por aí.

Eu vi-te, confesso. E ia-te parcebendo nos passos e no som das chaves na tua mão. Sabia que vinhas, mas não me tremiam as pernas.

Trocámos de vozes e de cheiros e inventámos motivos para bracejar juntos.



Em frente ao mar, entre uma muralha de gaivotas e uma tempestade de grãos de areia, escondemo-nos um no outro. Abraçaste-me como se me dissesses que o vento não me ia levar de ti. Como se soubesses que o vento me empurrava até ti, cada vez mais perto. Como se nos tivessemos visto em duplicado, nos olhos um do outro, como se nos tivéssemos ouvido perto do pescoço um do outro, como se nos tivéssemos falado, nos lábios um do outro.

E afinal sempre estiveste aqui tão perto. E eu andava distraída com personagens evaporadas.

Agora o ritmo dos teus passos acelera-me a pulsação, e o som das chaves na tua mão desatam as correias da conchinha onde me escondi.

Sei que andas por aqui, que vens sempre, e isso agora faz-me as pernas tremer...


(eu ando pelo mundo prestando atenção a cores que eu não sei o nome...)

*Mó

foto: www.heartgallery.ch/ cms/dyn_media/pressroom

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