Apagaram-se as luzes.
A música toca tão baixo que não a consigo cantar, canta tão alto que não a decifro.
Hoje decidi parar.
O vento congela-me o corpo como a dor que me congelou os sonhos inconcretizáveis. Queria que esta tisana quente, que bebo em goles pequenos, me incendiasse o peito, e que no meio da chama eu queimasse.
Queria ser o fogo dos mortais que em algum lugar ardem de amor e solidão partilhada.
Mas a minha solidão hoje é só.
Só eu, e a tisana quente que só o corpo consegue aquecer.
Dentro do escuro, o mar.
Não o ouço, a música tão alta não deixa.
Não o vejo além, o vidro que me protege reflecte a minha imagem.
Não o cheiro.
Mas sei-o lá...
Sempre agitado, sempre diferente. Todos os dias avança e recua. Permanece.
E eu que ás vezes avanço demais, às vezes recuo demais, já não sei o meu lugar.
Hoje, nesta solidão tão só, apagaram-se as luzes dentro de mim, e deixo-me sentir.
Hoje não canto, nem danço, nem vejo nada além de mim reflectida no vidro, com uma tisana entre as mãos.
Hoje volto a ser eu mais a solidão escurecida do que já fui.
Hoje não sou tua, nem minha, não tenho tempo nem sentido.
Hoje sou. Só sou. Sou só.
Sem dono e sem amor. Sem nada. Sem mim.
Sem pensar. Sem sentir.
Hoje morri para renascer a seguir.
(a tisana acabou).
*Mó
25.01.09