sábado, julho 22, 2006

Existem por aí muitos sóis por nascer. Conheço alguns que por medo ou ignorância extrema se recusam afincadamente a sorrir aos dias que passam e a louvar pelos que ainda hão de vir. Existem muitos cobardes, de capas camufladas e gárgolas no lugar das cabeças, sem torções de expressão ou qualquer tipo de contra-petrificação que os amoleça e os faça mais reais.
Existem desperdíçios de vida. Aqueles pobres de espírito que não são capazes de identificar um nenúfar no meio de um oceano. É tudo igual, tudo fácil, dizem eles.

E não dizem nada porque não sabem nada nem são nada. Não querem ser nada porque sabem muitas vezes que ao serem qualquer coisa o seriam da forma mais cruel de todas.

Existem pessoas más. Muito más. Que se elevam aos picos da arrogância cada vez que conseguem mais um segundo de espezinhamento, mais um único dia de sombras. Pessoas que não gostam do sol porque é quente, não gostam da chuva porque molha, não gostam do vento porque despenteia.

Não gostam deles.
Nem gostam de mim.

Porque sou filha do sol, como todas as luzes, sou amante da chuva em dias torrenciais, como todos os apaixonados, sou parte do vento, como todas as aves.

E sou tua, como toda a felicidade.


(Adoro a forma como a loucura as vezes me arranca os silêncios e me faz espreguiçar durante todo o dia. Tenho os olhos ainda colados de sono e a janela aberta belisca-me as pestanas.)
*Mó



Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu ?


J. Palma - acorda menina linda.

foto (link):
http://i18.photobucket.com/albums/b118/leodegundia/BALLET.jpg

sexta-feira, julho 07, 2006

Parece que querem torcer o sentido dos rios e até me vieram contar que é provável que o sol passe a nascer de noite e a lua amanheça todos os dias. Fecham as portas de dentro e de fora como se pudessem fechar os ventos e guardá-los para sempre em cada pedaço de ar onde o enclausuram.

Não dormem mais.
Se respiram fazem barulho, e quando não respiram, choram.

Não sabias?

São filhos de anjos também, e querem que as flores crescam todos os dias, que o vento exista em todos os lugares, que o sol ilumine as noites. Querem estar sempre acordados para nos verem adormecidos juntos e para inventarem atrás de nós cenários surreais.

Querem amar como nós e por isso nos seguem por todo o lado. Querem saber como se esconde um beijo atrás dum sorriso e como se chora porque se tem saudade mesmo quando se está tão perto.
Mas não nos querem a nós. Querem o que existe entre nós como se fossem aves de rapina à espreita para nos roubar o que nos faz tão especiais.



Espiam-nos, envolvem-nos com mistérios e pecados que não escolhemos viver.
Matam-nos.
E levam o que fez com que fossemos nós.

Já não temos silêncios, nem paz, nem sol para acordar. Já não temos sorrisos, nem beijos, nem tesouros para sonhar.
Já não nos temos sozinhos.
Os dois, sem o mundo inteiro.

E eles continuam à espreita, abutres que sugam o que vai ainda restando de nós.

Queria de nós só o que nós queríamos.
E eles não entravam, não faziam parte.

Não sonham, não amam, e não nos deixam amar.

(por mais que corramos a enfrentar uma escarpa, acabamos por caír. Eu não queria largar-te a mão).

*Mó

Why does my heart
Skip a crazy beat?
For I know
It will reach defeat
Tell me why
Tell me why

Why do fools fall in love?
Tell me why
Tell me why


(Why Do Fools Fall In Love? - Frankie Lymon)

imagem: Gustav Klimt - Love