domingo, março 12, 2006
Ensaio a sorte com a ponta dos dedos como se fossem partículas dum algodão que eu não desvendo, vou soprando as pessoas que passam por mim com um ou outro sorriso, junto com um ou outro aceno, e mais uma palavra ou um silêncio sedimentado.
Oiço de lá vontades de não me dizerem nada. Sorriem também, calam-se ás vezes – respondem-me.
Eu penduro-me nos meus cabelos pendurados à minha pele e vou balançando. Sei que não é verdade que a escarpa da minha vertigem começa agora porque sei que as mentiras do mundo já vêm de trás.
Pendurada que estou, nos tais cabelos de que te falo, balanço.
Baloiço sem descanso.
E rio, e choro e canto porque se calo adormeço, e prefiro esta fábula infinita de brinquedo de voar a saber que um dia me canso e que paro por aqui.
Na ponta dos pés, com os braços tremidos. Na ponta dos meus pés que não sinto por força do frio – chama-se Descalça a princesa do chão.
Rio, e choro, com frio nas mãos também.
Corro ente as portas fechadas, sem tocar os puxadores. Por trás da pele dos lugares estão sempre as verdades dos outros que riem. Que choram. Que têm vontade de não dizer nada – como eu.
Dois pássaros de papel e os bolsos rasgados. Mexo as mãos porque tremo os braços, dentro dos bolsos.
E brinco com a sorte, enquanto passo pelos sorrisos.
E pelas lágrimas.
E pelos silêncios.
Dizes que me distingo das mariposas pela espessura que trago nas asas, pela matéria que me dá estofo ao caminho pelo ar.
Digo-te que é coisa de gente, esta aceleração do baloiço nos meus cabelos – adormeço.
12.01.06
*Mó
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