segunda-feira, outubro 24, 2005

és tu quem não tem estado cá

"...o amor tem estado sempre perto, és tu quem não tem estado cá."

Á tua procura - SUPERNADA



Não tenho tido tempo para inventar coisas.
Não tenho tido paciência nem vontade para inventar coisas.

Ando entretida a brincar ás pessoas crescidas, como se as coisas que não inventei fossem um jogo daqueles em que se tem de passar muitos níveis para depois encontrar o monstro grande, ganhar e ficar com os castelos e os reinos todos do infinito.
Ou com um asteróide, como o menino daquele livro que não me canso de ler enquanto durmo.

As palavras enfeitadas atrapalham os espaços em branco entre as letras.
E eu não tenho tido tempo para barrocas e inóquas poesias. A vida é enfeitada demais para aceitar desenhos bonitinhos.

Só quero poder dormir outra vez com a chuva lá fora, e amanhã acordar com o sol cá dentro, espelhado nos lençóis, bordado nas minhas imperfeições de cansaço.

24.10.05
*Mó

(um beijinho ao menino da foto, e desculpa não te ter pedido para a tornar pública...)

quarta-feira, outubro 12, 2005

E é sempre só porque se sabe que não se fazem rascunhos do coração.
Tenho um corpo cheio de sonhos por dentro.
...mais um céu
...mais um mar
e mais tudo o que eu tiver.



Hope there's someone who'll take care of me
When I die
Will I go?

Hope there's someone who'll set my heart free
Nice to hold
When I'm tired

There's a ghost on the horizon
When I go to bed
How can I fall asleep at night
How will I rest my head

Oh I'm scared of the middle place
Between light and nowhere
I don't want to be the one
Left in there
Left in there


Hope There's Someone

Antony and the Johnsons

foto: Nuno Ferro ("the shell")

sábado, outubro 08, 2005


Eu sei que não lês o que escrevo.
Que nunca te preocupa saber se canto coisas para que caias desarmado no meu colo.

Mas caramba!
Custa assim tanto adivinhar-me à tua procura por todo o lado?

Parei à beira mar. Sem ti, por cá, vou andando, tem sido impossível voar sozinha.

*Mó

sábado, outubro 01, 2005

Pedi a todos que se encostassem à parede.
Revistei-os um a um.

A minha história mais pequena dava um conto policial, com a subtileza de Allan Poe, com a poesia de Baudelaire. A minha história mais pequena dava uma flor do mal, um ensaio sobre uma cegueira que eu achei emocionante inventar.

Não usavam casacos nem sapatos, quase os confundia:
Na mão de um encontrei o meu anel, nos olhos de outro a minha voz, nos lábios dela encontrei um segredo meu, nos lábios dele uma mentira qualquer que eu pedi que ela contasse.
Na sombra do quinto (a contar da esquerda para a direita), vi escondida a minha ingenuidade, entre os cabelos de outro, vi os meus dedos.

Perguntei-te o que achavas, se o crime era tão infundado assim, se era imperdoável tamanha insensatez. Perguntei-te qual seria a condenação.

E tu tapaste-me os olhos para que eu não soubesse mais de mim em partes. Mas eu ouvi na tua voz a condenação que merecias. Roubaste-me o coração, e fizeste-te juíz de tudo o que um dia eu possa querer emprestar a alguém que não tu.

(de tanto bater o meu coração parou)...



A minha história mais pequena dava o mais pequeno conto policial. Dava o canto duma gaivota em maresia incontrolável...uma página dum diário eterno:

"Piés para que te quiero si tengo asas para volar?" - Frida Kahlo

*Mó
01.10.05