sou gaivota e fui sereia
voar sem dar às asas...planar e adormecer depois...
segunda-feira, março 02, 2015
Do amor de cada dia
e alecrim na cozinha.
A vizinha, velhinha,
bate na porta e pede sal.
A torta a cheirar no quintal.
O gato a dormir,
ronronando,
e o rádio ao fundo
tocando.
Sonhos pendurados nas janelas
e um jantar à luz das velas.
Livros pelo chão,
um copo de vinho na mão.
As crianças, cansadas
depois das histórias contadas
dos dentes lavados
e dos pijamas vestidos,
estão adormecidas.
E falamos, de mãos dadas
sobre nossas vidas:
"É a loiça por lavar
e o quarto bagunçado,
como é bom assim, amar
do teu lado."
Mónica
28.02.2015
segunda-feira, fevereiro 09, 2015
CICLONE
segunda-feira, dezembro 29, 2014
(de Fátima)
terça-feira, março 25, 2014
sub-feliz.
Vibrou nas paredes firmes que fui construindo, e elas, não tão firmes assim, abriram fendas.Vibrou nas certezas e nas certas desconfianças. Vibrou que não há confiança nessa sub-certeza.
Houve uma de mim que foi certinha demais, organizadinha demais, direitinha demais e por ser demais, sub-amou. Sub-viveu. Morou num lugar racionado, estrutura planeada, tão certa e tão organizada:
sorrir sem gargalhar, comer sem engordar, pedir sem implorar, entristecer sem chorar, beijar sem tocar, ir sem despedir, amar sem preencher,
sub-sentir
sub-viver.
E houve uma em mim toda errada, toda desencontrada, mas que tinha uma certeza mais certa do mundo todo e de todos os universos imaginários, imaginariamente reais, infinitamente certos e profundos.
Houve um dia uma em mim que só sabia da tristeza em mares de lágrimas, de sorrisos em rosto rasgado, de exageros e prazer, de beijos de filme, histórias de livro, amores de imensidão.
Amores de paixão. Vida de amor. Dias de VIDA.
Inteira, intensa, imensa. Maravilhada, menina, misteriosa, menina - Mulher.
E essa que houve um dia, construiu um dia portas abertas, janelas iluminadas, cheias de incertezas e sonhos.
cheia de amor, de presente, de agora.
Só poderei Ser.
quinta-feira, janeiro 12, 2012
The longer the waiting, the sweeter the kiss
Just imagine the treasures I'll bring
Come lay with me, stay with me, soon I'll be gone
I will remember you all winter long
And when I return to the one that I miss
Oh, the longer the waiting, the sweeter the kiss
The sweeter the kiss
When the mornings are warm and the valleys are green
I'll come back from wherever I've been
Oh, the longer the waiting, the sweeter the kiss
It's better my darling, I promise you this
the next time I hold you, I'm not letting go
I will give up the ocean forever, I know
Forever I know.
quarta-feira, dezembro 14, 2011
Ana Borboleta
Esta carta é para ti, mesmo sabendo que talvez nunca a vás ler. Esta carta é para mim também, que por umas horas, poucas, curtas, fui puxada a ler-te.
Vinhas de camiseta preta, eu de camiseta branca e trazias o rosto baixo, o sorriso escondido. Baixei-me, olhei-te nos olhos “Como te chamas?”, “Ana Beatriz, tia. E você?” “Eu sou a Mónica, dás-me um beijinho?”
O rosto levantou, o sorriso abriu e não fechou mais.
Abri o teu bolo, pus a palhinha no teu suco, demos as mãos. E não as soltamos até agora. Tens 8 anos, dezenas de abraços, centenas de sorrisos, milhares de sonhos. Era para eu te acompanhar, ficar junto, não te deixar fugir, não te deixar perder, cuidar de ti. Foste tu que me foste encontrando, me agarrando, me tirando o sorriso tímido que eu afinal tinha e nem sabia.
“Tia, você tá triste?” “Não Ana, porquê?” “Eu também fiquei triste, você tem cachorro? Eu tinha um, roubaram de mim e eu fiquei muito triste. Meu tio bateu na minha tia, minha mãe pegou um facão e furou o carro do meu tio. Ele roubou o meu cachorro e eu nunca mais o vi...Mas tia, vamos brincar de esconde esconde? Eu escondo e você me acha!”
Disse-te que não, e foram os únicos nãos que te disse. Que não estava triste (sei que não acreditaste) e que não te escondias para que eu te achasse... Não porque não te quisesse achar, mas porque não te iria poder perder. Não de mim, não ali.
Conversámos e fizemos o nosso papai Noel. Puxaste-me para perto do palco, abraçaste-me a cintura, deste as mãos, entrelaçamos os dedos. Pediste colo, ofereci-te as cavalitas, os ombros, ofereceria-te um voo de pássaro se o tivesse.
Agarravas-me o rosto, pulavas em mim, pulamos juntas como se fossemos extensão das asas uma da outra.
Um beijo, e outro, e abraços, e dança e risos, muitos risos. Perdia-me dentro dos teus olhos de sonho, encontrei-te dentro dos sonhos que eu também já soube ter. Aprendi em cada silêncio, cada sorriso, e em cada palavra. Vi-te perdida procurando os meus olhos e os meus esconderijos... invadiste-me!
“Tia, você fica tão mais bonita sem óculos, sabia?” Roubavas-me os óculos, roubavas-me as máscaras e eu ia contigo. Borboleta, Ana Borboleta, de asas maiores que o espaço, de viagens maiores que o tempo. Entendeste-me, raptaste-me e eu quis ir, deste-me tanto mais do que o que eu achei merecer. Disseste-me ao ouvido que eu merecia tudo, que te merecia ali, anjo criança, malandra doçura, sonho de asas e olhos negros:
“Vou sentir saudade tia, vai-me visitar, vai?”
Apertadas uma contra a outra, uma dentro dos medos da outra, a brincar de esconde esconde, ou de acha acha, a brincar de amar e sentir saudade, a brincar de perder e procurar, a brincar de nós. De “quando eu for grande”, de “quando eu era pequena”, as duas num meio tempo que nos tornou iguais. Ana Borboleta de cabelo rebelde, sardas no rosto, barriga a doer de tanto algodão doce, bochecha redonda de tanto sorriso! Esta carta que não sei se vais ler, diz tão menos do que tudo o que dissemos. E tudo o que dissemos é tão menos do que tudo o que vivemos, que aprendemos, que nunca se vai perder em nenhum jogo de esconde esconde da vida.
Porque eu, Ana Borboleta, “Te amo, do fundo do meu coração.”
Mó*
quarta-feira, janeiro 12, 2011
segunda-feira, dezembro 20, 2010
Is not the reasons that make me go.
Is not your brain,
Is not my soul,
Is nowhere we can reach
or the time to reach there.
Is just staying somewhere.
Between heaven and land,
Sea and sand,
Breeze before wind
sketch before plan.
Is me without feet,
you an invisible man.
Mó*
20.12.10
sexta-feira, junho 18, 2010
Dissemos que seria melhor assim, que não havia mais caminho a fazer, mais sítio onde chegar. Soltamo-nos, partimo-nos e partimos, mas não nos despedimos.
Constrói-se o vazio inultrapassável que nos divide, o tempo estrutura esse abismo.
Tu de um lado, eu do outro, ainda nos vemos (cada vez mais longe).
Não me despedi nunca de ti porque não o saberia fazer ainda que o quisesse, porque nunca o quis, ainda que o soubesse, porque quando as mãos se soltaram, no dia em que fomos embora, disse em silêncio "até já".
Fui ao lugar do vento e das gaivotas, sabias? Onde te sonhei tantas vezes, onde nos reconhecemos dentro de nós, desde a nossa primeira alvorada. Ainda te vi lá, sabias? Pouco nítido, mas presente.
Ainda não me despedi de ti.
Tenho noites cheias do cheiro da tua pele, dias infinitamente pesados com a nossa saudade. Abro a memória e está lá um mar inteiro, com o vento todo, as gaivotas incontáveis, os beijos, os silêncios, as promessas e as sombras, o som da tua chegada, a ânsia do teu encontro, o grito da partida.
Não me despedi de ti, meu amor.
Não deixo que o pó sedimente o passado e o construa fechado. A ferida está aberta, não lhe vejo o tamanho para saber quanto tempo leva a curar, ou se é a melhor cura fazer com que feche.
Vou vendo aos poucos o nosso vazio e dentro dele gritam todos os erros que fizemos. Também eles não se despedem de nós.
Fomos imprudentes, irresponsáveis, impacientes. Fomos cruéis com a sorte, duros com o amor, e transformamos o tesouro em passado.
Perdemos-nos talvez, mas ainda assim não nos despedimos.
A perda é dos que não se sabem amar, mas a despedida é apenas dos que não se amam mais.
06.06.2010
*Mó
quinta-feira, junho 10, 2010
(não me despeço de ti)
Mó*
Há muito tempo
era uma vez
um homem que se perdeu
da sua amada,
e vagueou
por entre as nuvens do céu.
Perguntou à mais pequenina
se a tinha visto ao passar
depois à nuvem mais carregada
nenhuma o podia ajudar.
E assim passou tanto tempo
tecendo mil planos
em fios de algodão
que se desvaneciam
em nuvens no seu coração.
Todas as nuvens
da sua rua
foram à sua janela
escureceu, adormeceu
ficou a sonhar com ela.
E o mau tempo passou
o sol despontou
numa festa de cor
de manhã todas as flores
sabiam de cor
onde estava o seu
amor...
Pelas nuvens _ interpretado por Graça Reis.
terça-feira, fevereiro 09, 2010
leaving. loving. living.
For when I'm alone
I'll be better off than I was before
I've got this light
I'll be around to grow
Who I was before
I cannot recall
Long nights allow me to feel...
I'm falling...I am falling
The lights go out
Let me feel
I'm falling
I am falling safely to the ground
Ah...
I'll take this soul that's inside me now
Like a brand new friend
I'll forever know
I've got this light
And the will to show
I will always be better than before
Long nights allow me to feel...
I'm falling...I am falling
The lights go out
Let me feel
I'm falling
I am falling safely to the ground
domingo, janeiro 24, 2010
do encontro adiado
(ontem).
Não havia ninguém...
ninguém que aparecesse
(como combinado).
Não havia quem
se tivesse lembrado,
ou tivesse lembrado
alguém
(do encontro marcado).
Meio dia
(e o relógio atrasado)
O dia
adivinha o fado.
Era hoje.
É agora.
No presente que ofereçe o passado.
(É a hora).
Todos decidiram aparecer.
Tu, e eu.
Ninguém atrasado.
Eu sei que andamos
o que o caminho quiser.
(Que quando me encontrar
ter-te-ei encontrado).
26.09.09
*
sábado, outubro 17, 2009
(everything's a memory, with strings that tie to you)
Agora o mundo é real, a tua ausência é real, e as páginas em branco têm outro sentido. Agora o futuro é diferente visto daqui e o passado ganha a força da eternidade. Está tudo lá atrás, nos tempos em que não havia nada além de nós, em que éramos o que a alma nos quisesse dar.
Sempre os dois, só os dois.
Mas agora, não somos mais. As portas da tua casa, as janelas do teu quarto, por onde eu entrava para proteger o teu sono, fecharam-se à nossa frente, entre nós. Partimos os dois, sozinhos os dois, às cegas por esta trilha estranha, esta condição de navegar sem par.
Não sei se seremos capazes de andar neste caminho novo, ou velho, neste retorno ao que um dia fomos antes de nós.
Já sinto falta do brilho cor de âmbar que tinhas quando me olhavas. Tão raro que não entendi de onde vinha.
Sinto falta de cair no teu colo, voar nos teus braços, beber os nossos sonhos.
Mas isso agora está tão longe de nós meu amor, preso nesse passado que tem outra força mas que não existe mais.
Alimentámos a flor?
Regámos as sementes na alvorada?
Deixámos o vento e a chuva fazerem-no por nós, somos um campo dourado de flores secas.
Não sei quando é que deixei de saber sonhar-te sem limites, quando é que os braços me começaram a cansar, quando é que te quis ver de longe e não fui capaz de completar a imagem.
O que fomos juntos sei-o bem, mas o que éramos antes de nós, além de nós, já não soube desenhar. Como se não tivesse entendido a tua solidão junto com a minha, ou a tua luta antes de mim, ou os teus segredos. Por trás do âmbar doce que trazias nos olhos eu não conhecia o teu olhar.
Talvez porque brilhasse demais, ou talvez porque eu não soubesse olhar-te.
Não sei se o nosso amor nos prendeu ao mundo que criámos, ou se nos impediu de nos vermos inteiros.
Ás vezes, amor, o que nos dá a vida é o mesmo que nos mata.
O presente há de saber arrumar as coisas dentro de nós; o passado fica guardado, relembrado doce, às vezes amargo, infinito. O futuro é uma promessa cheia de incertezas, de oportunidades e desilusões.
Que a magia regresse a nós, e ao caminho que soubermos cumprir.
Até sempre, meu amor.
*Mó
03.10.09
terça-feira, setembro 08, 2009
pinxepe.
Parece que desceu o pano.
Os actores recolheram, a música acabou, as luzes apagaram. Ninguém saiu da sala. As lágrimas ainda não tiveram tempo de secar, coladas no rosto que vibrou. Atadas ao coração que sentiu.
Não houveram aplausos, eu não os ouvi. Não havia público, afinal.
Era a nossa peça, o nosso enredo, o nosso cenário.
Era a nossa música, no nosso tempo, nas nossas mãos.
Essa peça, atrás desse pano que agora desceu, era a nossa vida. A vida juntos que não chegamos a ser.
Fica um lugar confuso, entre a esperança e o desalento, porque escrevemos as linhas juntos, e agora não as sabemos ler.
O pano desceu.
Foram todos embora, menos eu e tu. Ficamos na memória de nós.
Porque não há drama depois do esquecimento, porque não há amor antes do sonho.
Sonhamos, sonhamos tanto...e isso, ainda que por trás do pano que agora desceu, é o que continua a vibrar dentro de nós.
Sejamos gratos pela história que soubemos escrever.
E antes que a sala feche, antes que tenhamos de sair, de nos despedir na porta onde um dia entramos, quero que saibas que te amo. Pelo que fomos, pelo que seremos para sempre...mesmo que não retornemos ao palco onde soubemos sonhar.
(não nos esqueças)
Mó*
08.09.09
sexta-feira, agosto 07, 2009
(n)a minha cabeça, sobre o meu corpo.
Segura a tua cabeça em cima do teu corpo.
Inspira.
Repete o processo, reverte o resultado.
Respira.
Respiremos, agora os dois, duma só vez.
Vês?
Sentes o que vês?
Então fecha os olhos.
Beija-mos.
Beijemo-nos.
Segura a minha cabeça.
Em cima do meu corpo.
Respiro.
Sinto-me. Sinto-te a sentires-te também.
Silêncio.
Solidão partilhada.
Vamos a um lugar onde o tempo que passa é o mesmo tempo que fica por passar.
Vamos agora?
(fechemos os olhos, e cheguemos lá...
talvez...)
Mó*
segunda-feira, agosto 03, 2009
Nunca pensei
(Hoje, eu acordei, e nem pensei no fim da linha
Hoje, eu levantei, e segurei a flor da vida, em vida, ergui os meus pés do chão
Nunca pensei que fosse fácil para mim
Que fosse fácil para ti, mas tentei
Não ser sombra de ti
E ter desejos para mim
Não ser apenas a luz do jardim
Foi por ti que eu roubei, Dei-me a ti, Só por ti pequei
Mas por mim, Partirei, sei que não voltarei para dizer, Meu amor
Nunca pensei que fosse fácil para mim
Que fosse fácil para ti, mas tentei
Não ser sombra de ti
E ter desejos para mim
Não ser apenas a luz do jardim)
sombras do desejo - donna maria